quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A relação de amor e ódio entre arte e design.

A discusão é antiga. Mas do modo como vejo, o design serve a um propósito específico, não estando aberto às diferentes interpretações. É assim, ao menos quando falamos do design inserido no ambiente empresarial.

Por mais nobre que possa parecer, criar uma marca da mesma forma que picasso concebia seus quadros pode não ser lá muito boa idéia. Mesmo assim, praticamente todos os jovens que optam por essa profissão costumam ter alguma afinidade com arte, desenho, etc. Só depois de um tempo passamos a pensar o design de forma estratégica, racional e mensurável em um mercado que já não comporta os gênios artistas que vêem clientes como patrocinadores de suas obras.

No entanto, o design se alimenta da arte, de nossa cultura, de nosso comportamento. De maneira mais ou menos evidente, a produção artística e cultural de um local pode ser reconhecida na comunicação de suas empresas.

Levar em consideração os dois lados da moeda, criando uma identidade visual capaz de refletir fortemente uma realidade cultural e ainda assim pensá-la de maneira analítica e estratégica é algo muito gratificante. O caso que mostro a seguir é um exemplo:















A xilogravura nordestina é um exemplo de artesanato imensamente peculiar. Pelo mesmo motivo, não tem uma abertura tão grande para uso comercial. No entanto, quando um produto é pensado de maneira também peculiar, um leque de novas possibilidades se abrem e o resultado final se distingue do que há de mais comum no mercado.

Foi o caso da marca de cosméticos Alma Brasil, que optou por se posicionar como uma marca autenticamente brasileira, buscando uma estética artesanal tanto em sua identidade visual quanto nas embalagens de seus produtos.

A solução encontrada veio, não apenas da estética do artesanato cearense, mas também das lendas que permeiam o nosso imaginário. A sereia, entidade mitológica que remete a beleza e encantamento, reconhecida em qualquer local do mundo, tomou forma de xilogravura, incorporando as deusas dos rios e mares como Iara e Iemanjá. Da mesma forma, as embalagens buscaram refletir os conceitos traduzidos na identidade visual, utilizando cordas de buriti, escamas de peixe, artesanato em argila e etc.



A marca Alma Brasil buscou traduzir em sua identidade a beleza, o exotismo e as lendas de nossa terra. É um projeto que permitiu resultados diferenciados por ter sido pensado de forma diferenciada desde o princípio.
Por fim, em nível pessoal, é imensamente gratificante recorrer à arte e a cultura local para dar forma a um projeto concebido de maneira racional e estratégica. É o tipo de trabalho que faz diferença. Para o cliente, e para nós mesmos, como profissionais.

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